O Mundo de Eoghar
Após cada folha em que você passar neste livro, o vasto mundo de Eoghar se mostrará mais interessante. Embora o nome real seja Eoghar, o qual havia sido o do Primeiro Grande Mago, a maioria da população em que lá vive chama-o de Quatro Reinos. No entanto, explicarei isto mais à frente. Agora lhes direi um pouco mais deste mundo e de suas histórias passadas.
Há muito tempo, a magia já fora algo livre e comum em Eoghar, e os Grandes Magos ainda a ensinava por todos os reinos, como os próprios reis desejavam. Ela havia sido um presente enviado pelos deuses, que acreditavam que os humanos eram as criaturas perfeitas. Portanto, este estúpido pensamento era algo completamente errado.
Quando um milênio havia sido completado e os reinos ainda pairavam sob o domínio da magia, um povo de um lugar longínquo rebelou-se contra os outros três reinos. Este lugar se chamava Alestan.
Em Alestan a magia era inexistente. Havia lá espadas, arcos, martelos e lanças, mas não magia. Nem um único objeto mágico. Acreditavam que a magia era algo ruim; entretanto, não era mentira. A vontade pelo poder fazia muitos magos morrerem nas mãos da justiça. Naquele tempo, a magia estava tornando-se algo vil. Porém, ao longo de um milênio, os magos haviam diminuído muito a população. Os nobres que antes aprendiam a magia para serem úteis, agora desejavam aprender para matar e governar. A magia estava criando um caos.
E o povo de Alestan aproveitou deste desastre. Tinham mais de cem mil homens experientes no exército, os quais se tornaram conhecidos por Lâminas Dançantes.
A guerra, então, aconteceu. Os outros reinos jamais esperariam pelo ataque inesperado que os guerreiros de Alestan fizeram; contudo, a batalha não havia sido tão mortal como se esperava. Os que não possuíam magia poderiam viver, caso lutassem também na guerra e ajudassem a destruir os magos. Por sorte, nenhum dos nobres conhecia algum tipo de magia. Então, os quatro reinos, juntos, devastaram todos os magos, e a magia extinguiu-se.
Poucos anos depois da guerra que se tornou conhecida por Grande Guerra, a Era da Magia terminou, dando início à Nova Era. Entretanto, nem todos os objetos mágicos haviam sido destruídos; havia um, um único livro, escondido em algum lugar.
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Capitulo 1:
O vento soprava forte. O sol resplandecente já descia em direção as montanhas do Oeste, para finalmente desaparecer.
As Montanhas Esquecidas era um lugar perigoso; caminhos estreitos e sem proteção, feitos há milênios, era o único modo de subi-la. Inúmeras mortes já haviam acontecido pelo local, e por isso, a subida mortal tornou-se conhecida como Trilha das Almas.
No entanto, nem está misera história foi capaz de impedir jovens e destemidos viajantes de subi-la. Quando se alcançasse o topo da primeira montanha, uma ponte estendia-se à próxima, e o Castelo do Céu finalmente poderia ser avistado.
O castelo era, talvez, o último restante da Era da Magia. Ele escondia-se em meio à região mortal das Montanhas Esquecidas, e jamais poderia ser observado sem que antes os viajantes subissem até a ponte. O lugar em que foi construído, antes, era completamente inóspito. Mas quando foi erguido, tornou-se a moradia de muitas famílias durante a Grande Guerra. E as demais lá ainda residiam.
Mas a verdade por trás do castelo para atrair tantos guerreiros e viajantes de lugares longínquos, era pela sociedade de guerreiros que apenas lá se treinava: os Lâminas Dançantes. Desde o fim da Era da Magia, a sociedade tornou-se a preferida por muitos para se treinar novos espadachins. A busca pela técnica era o que levava tantos arriscarem-se a subir a Trilha das Almas. Porém, nem todos iam até lá por vontade própria; muitas vezes eram guerreiros mandados a pedido de reis, para tornarem-se da Guarda Real ou apenas guerreiros em potencial no exército.
Mas Barton e William não subiam a pedido de rei. Desejavam apenas aprender aquela técnica única e poderosa, que poucos do reino conheciam por completo. Queriam se tornar lendas nos Quatro Reinos, apesar de terem vindo de uma família pobre de pescadores. Os dois eram gêmeos; tinham dezesseis anos, porém suas aparências eram distintas. Barton possuía o cabelo crespo e loiro, enquanto William tinha os cabelos lisos e negros. Os olhos, entretanto, eram idênticos: marrons como a madeira.
Faltava pouco para alcançarem a ponte, para que finalmente pudessem visualizar o castelo jamais visto por seus olhos.
- É bom – disse William, apreciando o vento que lhe tocava as bochechas. – Eu sempre quis estar num lugar como este.
- Estamos tão perto, Will. Espero que nos aprove para deixar-nos treinar – Barton disse, enquanto mastigava um pedaço de maçã.
Will sempre sentia um frio na espinha ao ouvir aquela palavra: aprovar. Ele temia, temia que não fosse aprovado para ser treinado sob as técnicas antigas dos dançantes. Ele e seu irmão haviam partido fazia dias do Reino de Osmond até Alestan, após perderem seus pais num saque na aldeia em que viviam. Desde então, já haviam decidido que realmente queriam estar no Castelo do Céu. Desde crianças sonhavam com aquilo, e agora, estavam tão perto. Will apenas esperava que fosse aprovado. Ele tinha de ser aprovado.
Repentino, Barton sentou-se próximo a encosta da subida. Jogou sua bagagem ao lado e fez um gesto para que Will se sentasse. O irmão, sem entender, obedeceu.
Barton deu uma última mordida em sua maçã, então a atirou do penhasco. Depois se virou para sua bolsa e vasculhou seus poucos pertences.
- O que quer? – Will perguntou, também retirando sua bagagem.
Sem responder, o irmão retirou da bolsa um tinteiro, uma pena e uma folha. Lentamente e com cautela, escreveu com sua melhor letra: “Eu, Rei Siward do Reino de Osmond, envio para o treinamento dos dançantes estes dois jovens aprendizes. Se a aprovação for feita, não deixem de me avisar”. Logo ao terminar de ler, Will lembrou-se de que Barton não poderia esquecer-se de citar a aprovação. Caso isso acontecesse, os guardas do Castelo do Céu saberiam, e então os dois acabariam mortos.
- Caro irmão, estas são técnicas para enganar estes burros que protegem o castelo. Vamos conseguir entrar facilmente! – disse Barton, com um sorriso que mostrava a Will seus dentes amarelados. Ele guardou seus poucos pertences de volta à bolsa, e então se levantou. Naquele momento, Will percebeu como a subida agora estava tão estreita; sem tirar os olhos da montanha a sua frente que lhe impedia de ver o castelo, levantou-se num sobressalto, tombando em direção ao abismo. Barton segurou-o pelo braço antes que caísse, e disse:
- Tome cuidado. Não vá morrer logo aqui, depois de chegar tão longe – ele jogou-o para trás, e Will chocou-se com as costas na encosta. Pegou sua bolsa e seguiu apressado seu irmão.
O caminho havia tornado-se mais estreito. Aquela parte talvez fosse à responsável por tantas mortes. Eles andavam ao lado da encosta, com ambas as mãos apoiadas sobre ela. Tentavam sempre que possível encontrar uma pedra para segurarem, para conseguirem manter equilíbrio.
O pé de Barton havia deslizado para trás, porém Will também o segurou pelo braço. Quando finalmente alcançaram a ponte de madeira velha e desgastada, suspiraram profundamente. Eles haviam conseguido.
A noite já havia coberto todo o reino, no entanto as estrelas ausentavam-se do céu. Mesmo sob a escuridão, o castelo ainda podia ser visto por culpa das tochas que tinha em suas paredes. Era realmente lindo: era uma imensa estrutura de pedra, que mesmo depois de tantos anos, não havia perdido sua beleza. Acima dos portões havia uma grande espada, que nenhum homem jamais conseguiria empunhar.
O castelo estava construído sobre uma montanha, e por isso, sua metade estava sob ela. Ao contrário desta parte, outra poderia ser vista sem nenhum tipo de proteção por baixo, o que dava a impressão de que em qualquer momento ele poderia desabar. Era realmente incrível como aquilo jamais caíra.
Sem perderem tempo, os irmãos atravessaram a ponte, e então se encontraram com uma descida que levava até os portões do castelo.
Seguiram-na sem se preocuparem com a segurança, e rapidamente se encontraram com os guardas. Eles trajavam simples cotas de malha e capacetes, sem nenhum tipo de enfeite. Com suas lanças, bloquearam a passagem que levava até o salão, e então um deles disse:
- Quem lhes enviou?
- Rei Siward – respondeu Barton, aproximando-se deles. Retirou de seu bolso a carta falsa que havia escrito, e então a entregou para o qual perguntou.
Com uma mão, o guarda a leu atentamente. Devolveu-a para Barton e disse:
- Podem passar. Espero que sejam dignos de aprenderem nossas técnicas – ele retirou sua lança da passagem, e logo o outro também o fez.
O salão era lindo. Havia lá várias mulheres, crianças e homens, sentados nas mesas com deliciosas refeições. Um tapete vermelho estendia-se ao longo da sala, que, em seu lado, possuía vários pilares com mesas por trás. No fim, havia dois tronos de pedra, um ao lado do outro. Ambos estavam forrados com a pelagem de algum animal. Ao lado do trono esquerdo, havia a escadaria que levava ao segundo andar. No entanto, ao lado do outro, havia um portão, cujo provavelmente levava à área onde os Lâminas Dançantes treinavam.
E lá eles adentraram.
Diferente do portão, aquele lugar não era nada bonito. Era uma caverna, simplesmente. Lá havia tochas e guerreiros com espadas presas à cintura, fazendo o corredor rochoso parecer menos assustador.
Quando finalmente o atravessaram, se encontraram com uma sala espaçosa, entretanto também completamente de pedra.
Aquele era o local onde os Lâminas Dançantes treinavam. Ao redor do local havia bonecos para treino, onde alguns guerreiros treinavam. No entanto, no centro, havia um grupo de aprendizes, com um homem destacando-se na frente: tinha uma barba negra mal feita, e usava uma cota de malha como a dos guardas. Era calvo, e tinha olhos negros como à noite. Devia ter pouco mais de trinta anos.
- Ora, parece que temos novos aprendizes! – ele disse, virando-se para Barton e Will. Aproximou-se dos dois irmãos, e os inspecionou cuidadosamente. Rodeou-os lentamente, e aparentava estar procurando algo preso à roupa deles.
- Postura correta, garotos – ele ordenou, e logos os dois garotos obedeceram. Deixaram a coluna reta, e também ambos os braços. – Godart, espadas! – o outro aprendiz, quando ouviu a ordem de seu instrutor, correu em direção até o grupo reunido no centro da sala, e de alguns dos garotos tomou duas espadas de madeira. Correu até o instrutor e as entregou a ele.
- Eu me chamo Ellis, homens. De onde são e qual seus nomes? – o mestre perguntou, dando aos irmãos as espadas.
- Viemos de Osmond, senhor. Meu nome é Barton, e o de meu irmão é William – Barton respondeu. – Siward mandou-nos aqui, para sermos treinados. Somos os novos guerreiros recrutados, mesmo que sejamos apenas adolescentes.
Ellis, com uma sugestão de sorriso no rosto, disse:
- Rei Siward, Barton. Diz-se Rei Siward, não apenas Siward.
- Ah... É claro, senhor. Às vezes isto se passa despercebido – Barton corou, e olhou de relance para seu irmão. Estava fingindo passar-se por alguém honrado ao rei, e mesmo assim errara o modo de como chamá-lo.
- Isso agora não importa – o instrutor disse, desembainhando sua espada de madeira. – Para tornarem-se Lâminas Dançantes, precisam passar pelo teste. Caso reprovados, voltarão para casa.
Will engoliu seco. Havia chegado à hora. “Foi tão rápido, tão rápido!” ele pensou desesperado. Desejou que não tivessem chegado ao castelo tão cedo.
- O teste será amanhã – Ellis olhou de relance para Godart: era um garoto baixinho, e tinha cabelos lisos e negros. Seus olhos, entretanto, eram azuis como o céu. – Mostre-os o quarto, Godart. Precisam descansar.
- Sim senhor! – o garoto respondeu, correndo até os dois irmãos.
“Eu vou ser aprovado... vou me tornar um Lâmina Dançante, com certeza!” Will tentou parecer confiante, enquanto atravessava o corredor rochoso. Ele e seu irmão estavam tão próximos para aprenderem as técnicas antigas dos dançantes; a única que poderia lhes impedir seria a reprovação.