1 As Crônicas de um Samurai 3/8/2012, 17:34
Kazuyashi
Membro Honorário
Escrito por Kazuyashi.Todos os direitos reservados. A história e os personagens presentes são de autoria dele. Caso for divulgá-la em algum veículo, favor dar os devidos créditos. Está sobre Creative Commons.
Como dito na descrição deste tópico, "As Crônicas de um Samurai" são crônicas baseadas na Ásia feudal, dando ênfase no Japão, que relatam histórias de nobres (ou não tão nobres assim) e fictícios samurais, cada qual com suas peculiariedades, seus devaneios, sua índole, e que terão seu desenrolar em uma trama comum. Se você gosta da cultura oriental, da forma como o conceito de "honra" era encarado, os dogmas do bushido, acredito que vá se identificar com as histórias aqui contidas.
E aproveitando, gostaria também de deixar neste espaço o meu agradecimento à você, que está dedicando parte do seu tempo lendo minha humilde história. Espero que goste e tenha uma ótima leitura! Se for de sua vontade, deixe um comentário para que eu possa saber o que você achou. Se os capítulos agradarem, com o tempo postarei outros!
Um grande abraço e, novamente, uma ótima leitura!
Kazuyashi.
E aproveitando, gostaria também de deixar neste espaço o meu agradecimento à você, que está dedicando parte do seu tempo lendo minha humilde história. Espero que goste e tenha uma ótima leitura! Se for de sua vontade, deixe um comentário para que eu possa saber o que você achou. Se os capítulos agradarem, com o tempo postarei outros!
Um grande abraço e, novamente, uma ótima leitura!
Kazuyashi.
Oruha 01 - Um Advento da Noite
- Spoiler:
- Era uma fria e nimbosa noite de outono do ano de 1738, no Japão. Pelas sorumbáticas e quase desabrigadas vielas de Kyoto, transitava um belisário ádvena. Trajado em completos frangalhos, ele progredia em sua vereda, tão desvalido quanto a noite da qual advinha.
Além dos andrajos do qual se valia, o desconhecido avia-se de um sovado chapéu de palha, denominado “jingasa” e o que parecia ser uma longeva espada, camuflada em sua cintura. Sua aparência atemorizante o tornava facilmente catalisador do acobardamento alheio. Nenhum dos transeuntes ali presentes ousou afrontá-lo, porém eles sabiam que adventícios não eram bem-vindos nas terras dominadas pelo Xogum.
O vento aflava-se violentamente, aduzindo as pétalas rosáceas das cerejeiras, enquanto as gotas de chuva castigavam àquelas amargas quelhas. Fazia-se ouvir apenas a crepitação dos passos do forasteiro em contato com o chão de terra batida, repleta de poços pluviosos.
Sua fisionomia era desconhecida, mas era impossível não sentir a força que seu espírito emanava. Intimidadas pela aparência contrastuosa do indivíduo, os camponeses deliberaram em dar progresso no que estavam suscitando.
Alguns ainda ousaram a comentar:
-Como pode... uma figura trajando tão degradada vestimenta, ter um espírito tão nobre?...
O homem, sem manifestar motivação alguma, passando entre os demais camponeses, continuou trilhando sua senda à delongados e despreocupados passos vielas à dentro.
Oruha 02 - Precipitação em Kyoto
- Spoiler:
- À medida que o homem se precipitava ao interior das vielas de chão batido de Kyoto, mais tisnado se fazia o firmamento, e mais afligida a chuva se tornava. O silêncio, que até então sempre se fazia presente, passou a se tornar metuendo.
O quimono estava abeberado, assim como o chapéu de palha, mas aquilo não parecia atingir o singelo transeunte. Ele vagava quiescentemente, e pelo leve sorriso que deixou escapar de seus lábios, a única parte exposta de seu rosto devido a jingasa, era quase como se ele gostasse da chuva.
Alguns minutos a mais de caminhada, e um alvoroço precedido de um grito medonho irrompe no ar.
Ouvia-se ao longe:
-Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahh! Nãão, por favooor! Não toque em minha filha! Por favor, pode fazer o que quiser comigo, mas deixe minha filha ir!
O transeunte misterioso apertava o passo, porém cautelosamente para não ser previsto. Ele se deslocava em direção ao local aonde o som havia se propagado. Enquanto caminhava, se fazia ouvir outros trechos da conversa que se estabelecia próximo dali:
-Há, Há, Há, Há, Há, Há! Cale a boca, sua vadia! Não me obrigue a te matar. Eu quero é a suculenta da sua filha!... Vem aqui com o titio, vem, sua garotinha levada!
Chegando à esquina da viela aonde a cena ocorria, havia uma mulher surrada e ensangüentada caída no chão. Protegida por seus braços, uma jovem garota, porém sem escoriações. Próximo das duas, um homem mastodôntico de aproximadamente três metros de altura, portador de uma panturra altamente desenvolvida. Também era careca e muito feio. Ele oprimia covardemente as duas mulheres. Em esganiçado tom de voz, precipitou-se à jovem garota:
-Sua puta, vadia! Se você não quer vir sentir o meu gosto, eu vou aí sentir o seu! Há, Há, Há!
Antes que o homem pudesse se aproximar e subjugar sua vitima, um ruído similar a um estrondo de trovão ecoa, e quase como se transpassasse o gordo gigante, o misterioso andarilho irrompe-se perante ele, sustando suas ações.
-Q-q-qu...quem é você?! – Dizia o homem gigante – C-como você fez isso?!
Ele dá alguns passos para trás, enquanto o andarilho mantinha-se na frente das duas damas. Ele não mostrava nenhuma postura de ataque. Nada. Tudo que havia feito era usar de uma agilidade sobre-humana para percorrer uma distância significativa e cessar o ato violento do opressor covarde. As duas damas também haviam se tornado estáticas. Estavam tão inertes que nem reação esboçaram.
O céu ficava cada vez mais lôbrego, entretanto o nimbo encerrava-se gradativamente. O vento se tornava mais acolhedor. Logo, gota após gota, nenhuma mais pingou. O silêncio havia instaurado no lugar e nenhuma reação por parte do volantim foi tomada.
Cansado de esperar, e tal como se recuperasse a coragem, esbravejou o gordo:
-Ora, não vai responder a pergunta de “Toru, o Grande”?! Toru fatiaaaaaaaaaaa!
O gordo dá demasiados passos para trás e saca uma, aparentemente, grande, pesada e ornamentada espada de aço, possivelmente maior que ele próprio. Com um impulso absurdo, ele se desloca vorazmente em direção ao desventurado forasteiro.
-Você vai morrer agora nas mãos de Toru, o Grandeeeeeeeeeeeeee!
O fio da espada de quase três metros e meio ia de encontro à cabeça do estranho, o destino soturno parecia certo, porém, com poucos milímetros de acertar o alvo, um estampido de lâminas vibrando freme fortemente no ar.
O forasteiro enigmático havia sacado a sua espada. Incrivelmente, todo o impacto do ataque do gigante havia sido absorvido. Antes que Toru pudesse expressar alguma reação, algo mais incrível ainda acontece: Seu ataque não só havia sido absorvido, como também repelido.
Após um forte flash precedido de um estouro, a carcaça de Toru alçou vôo, rompendo a densa e vascolejada noite. Dispersado a quase quarenta quilômetros por hora, o corpo retorcido de Toru só estagnou quando se chocou a um muro de uma construção.
Mesmo desarranjado, com os ossos britados, Toru ainda estava vivo, porém o dano causado foi o suficiente para fazê-lo perder todos os movimentos do corpo. O enigmático e sobre-humano espadachim, como se nada tivesse ocorrido, mantendo o olhar fixo em Toru, avergoa sua katana contra o vento e a guarda na bainha logo em seguida.
Toru, depois do grande deslocamento no qual foi principiado, parou a aproximadamente cento e cinquenta metros do ponto primordial do combate. Apesar dessa distância, a taciturnidade da noite permitia que os dizeres em tom moderado pudessem ser escutados pelo gigante derrotado:
-Não vejo o porquê de proferir meu nome a um covarde aproveitador. Você não tem honra. Só não vou matá-lo porque não quero traumatizar e nem manchar com sangue a alma destas duas mulheres.
O guerreiro misterioso desvencilha o olhar de Toru e vira-se de costas, dirigindo-se às damas caídas, enquanto conclui:
-Se cruzar meu caminho de novo, não haverá quem o poupará da morte.
Toru estava incrivelmente atemorizado. Ele nunca sentiu tanto medo antes quanto sentira nessa ocasião. Ele nunca conheceu alguém que pudesse ser tão frio, calmo, despreocupado, e ao mesmo tempo tão polido, educado e doce. Ele sabia que aquele homem era um assassino brilhante e que provavelmente já havia causado muito derramamento de sangue.
O refinado espadachim se aproxima calmamente das duas camponesas e se ajoelha perante elas. Seu rosto não havia sido revelado. Estava quase que completamente coberto pela sombra e pela jingasa propriamente dita, embora fosse possível denotar um generoso e acolhedor sorriso em sua face:
-Mil perdões por deixá-las passar esses dissabores. Vocês estão bem? Machucaram-se?
As duas se abraçam afetuosamente e debulham em lágrimas. O guerreiro mais uma vez sorri, tal como se obtivesse a resposta de sua pergunta e se levanta, continuando o seu caminho. Porém, antes que ele pudesse se afastar completamente, a dama, que parecia ser a mãe da menina, o inquire:
-M-muito obrigada... muito obrigada mesmo, senhor... qual é o seu nome?
O homem, sem cessar os passos, redargüiu calmamente:
-Oruha... Yamamoto Oruha. É um prazer...
O vulto de Oruha some na penumbra da noite, enquanto mãe e filha vão o mais rápido possível para o aconchego de seu lar.
Após um ou outro relampejo, a chuva torna a cair. Apenas Toru encontrava-se estirado contra o muro no qual foi arremessado. Apesar de muito baixo, ele pôde ouvir o nome do enigmático guerreiro, quase como um sussurro:
-Oruha?! E-ele disse... Yamamoto Oruha?!...- Dizia ele, mais atônito do que nunca, enquanto lágrimas começavam a rolar de seus olhos – É um milagre eu estar vivo! E-esse homem... Ele é um dos Sete Dragões Protetores de Xogum!... Yamamoto Oruha, mestre das técnicas relâmpago...
“Nunca mais quero encontrar com esse homem de novo... Tenho amor a minha vida.”