1 The Forgotten Tales 21/12/2012, 14:09
FilipeJF
Membro de Honra
Bom, ultimamente eu estou buscando um modo diferente de escrita. Quero aprender a escrever como se eu "contasse" a história. Para testar isso, escrevi esse pequeno texto. Espero que gostem.
Sinopse
A magia renasceu, e o paradeiro do único cujo teve a oportunidade de aprendê-la é desconhecido. Paralelamente, dois dos três reinos entram em guerra por culpa de falsas provas de que o mago é um enviado do rei. Porém, diante de tudo isso, o poderoso rei do terceiro reino aproveita-se da situação para conquistar terras que não lhe pertecem.
Sinopse
A magia renasceu, e o paradeiro do único cujo teve a oportunidade de aprendê-la é desconhecido. Paralelamente, dois dos três reinos entram em guerra por culpa de falsas provas de que o mago é um enviado do rei. Porém, diante de tudo isso, o poderoso rei do terceiro reino aproveita-se da situação para conquistar terras que não lhe pertecem.
Prólogo
Sob os altos carvalhos da floresta, havia uma casa; uma bem velha, com cada pedaço igualmente antigo, desgastado e prestes a cair.
Mas apesar da aparência, o interior dizia totalmente o contrário - uma lareira ardia na parede, e à frente, uma mesa portava as mais deliciosas refeições que alguém poderia desejar. Pães, uvas e vinho. Tudo isto, dentro de uma casa velha e caindo aos pedaços, era suspeito. E todos tinham razão para achá-lo; o homem cujo lá vivia, para a maioria, era um feiticeiro.
Portanto, ele era jovem. Não podia ter mais de trinta anos: os cabelos negros desciam até os ombros, e a barba há pouco havia sido aparada. Mas assim como a casa, a aparência do interior pode muitas vezes surpreender - seja para bem ou ruim. Por conta dos boatos dizendo sobre o jovem, o rei, um velho barrigudo e cheio de rugas, enviou três de seus cavaleiros para dar um fim nisso.
Sentado na segurança da casa quente e confortável, o suposto mago enchia-se de vinho e pão, sem preocupar-se com a chuva devastadora que trazia pânico à floresta ao seu redor. E numa batida súbita de porta, cuspiu o vinho da boca e pôs-se de pé num pulo. Assustou-se pelo desespero da pessoa que tentava chamá-lo em meio ao barulho da chuva. Quando abriu a porta, deparou-se com quem menos desejava: os cavaleiros do rei.
- Queridos, por favor, saiam dessa chuva - o homem tentou, para sua tranquilidade, parecer o menos suspeito possível. Mas os cavaleiros sequer desmontaram dos cavalos; apenas olhavam-no bem nos olhos. O do meio, que aparentava ser o mais bruto, tinha uma grande cicatriz que descia por toda sua bochecha direita. Tinha entre o braço seu elmo, que trazia uma pequena bandeira com o estandarte do reino de Alestan - um escudo com uma espada cortando-lhe por trás. Os outros dois ainda tinham sobre a cabeça os capacetes, que eram idênticos ao do líder.
- Senhor Gaubert Bouchard, provável feiticeiro - disse, por fim, o cavaleiro do meio. - Usa a magia contra a ordem do rei e contra uma lei há muito aprovada. Temos ordem para levá-lo daqui.
Gaubert, ao ouvi-lo, sentiu-se ameaçado. Agarrou-se à porta e forçou um sorriso.
- Meu senhor, a magia não mais existe. Como eu poderia usá-la novamente, sendo que todos os objetos relacionados a ela se foram? O próprio rei de Alestan, na época, disse ter acabo com todos os magos.
- Não minta - o cavaleiro saltou do cavalo, aterrissando no barro molhado que lhe sujou as botas. - Mostre-me o livro. Se não o fizer, cortarei sua garganta - ele cuspiu nos pés de Gaubert, retirando risadas dos companheiros. Adentrou a casa ao lado do suposto mago e o aguardou enquanto ele procurava pelo livro.
- Não me faça de tolo - ordenou, sentando-se na mesa e roubando uma uva. A cadeira, no mesmo instante, molhou-se por inteira; a cota de malha do velho estava encharcada.
Aproveitando o momento de distração do cavaleiro arrogante, Gaubert pegou seu cetro escondido por trás de barris e apontou-o para o homem.
- Saia de minha casa, agora! Eu não tenho medo de atacá-lo!
- Pelos deuses - o cavaleiro arregalou os olhos, surpreso, mas ao mesmo tempo, assustado. - Então é verdade!
- Mostrarei-lhe a grande verdade! - Gaubert rugiu, furioso, e o diamante azul preso na ponta do cetro brilhou. E num movimento repentino, o cavaleiro foi atirado pelo ar, caindo ao lado da porta. Por mais que tentasse levantar-se e fugir, não conseguia; Gaubert segurava-lhe com a magia.
- Você me desafiou, velho... - disse o feiticeiro, cansado. Não conseguiria segurá-lo por mais tempo. - Vocês dois, vão embora! - ele gritou para os outros cavaleiros, para que pudesse somente dar um fim no qual fez-lhe de bobo. Voltou para dentro da casa e buscou uma faca, a mais afiada que conseguira encontrar. Ajoelhou-se ao lado do velho e encostou-a em seu pescoço. A lâmina era fria como as gotas vindas do céu.
- Não... - disse o homem, choramingando. Mas Gaubert não teria pena, assim como ele não teve ao ameaçá-lo.
- Quem terá o pescoço cortado será você - o feiticeiro riu. - Acho que perdeu o jogo - ele afundou a lâmina na pele frágil do homem, enquanto o fazia gemer de tanta dor. Mas era tarde; o feiticeiro partiu-lhe parte do pescoço. O cavaleiro estava morto.
Naquele dia, Gaubert deixou a paz de lado e revelou a todos ser o único mago existente. Era agora temido pelo próprio rei.
E a magia, por fim, renasceu diante o início do inverno.
Capítulo 1: Um Visitante Desconhecido
- Spoiler:
- A manhã chegara fria e enevoada na pequena vila de Aldebrand que, embora fosse um lugar calmo, estava fora de controle após o incidente do dia anterior: a morte de Fray Faméte, um dos cavaleiros reais de Rei Aldred.
Por conta disso, toda a floresta ao redor foi completamente ocupada por guardas. A prioridade do reino de Alestan era procurar o mago que provocara tal coisa. Chamaram-no Feiticeiro. Entretanto, mesmo com essas diversas confusões que surgiam à cada momento na vila, um jovem mostrava-se destemido o suficiente para continuar suas tarefas diárias. Nada mais era que um humilde artesão de roupas, que sequer sabia empunhar uma espada.
Seu nome era Aldun Ondart.
Sentado sob as sombras de uma castanheira que lhe protegia dos raios do sol, trazia consigo na boca um grande cachimbo. Os anéis de fumaça subiam para além dos bosques, casas e colinas, até que se desfizessem.
Quando soprou novamente a fumaça, desta vez pelas narinas, percebeu um anel passando à frente; ao lado, havia um guarda, com um pequeno cachimbo entre os lábios. Então aproveitou a chance. Virou-se para ele e soprou um enorme anel, que se chocou contra a cota de malha e explodiu-se. O velho guarda riu, aparentemente mostrando-se superior, e do pequeno cachimbo subiu um anel tão grande que fez Aldun achar que o seu nada mais era que um inútil anel mal feito. Mas não se deu por vencido tão facilmente. Soprou novamente, e o circulo de fumaça saiu tão enormemente que o guarda desistiu ao vê-lo.
- Seu cachimbo é maior - disse ele como desculpa.
- Não há problema nisso - disse Aldun, observando seu anel desaparecer por entre as árvores à frente. - Você pode fazer maiores se for bom.
O velho guarda então respirou por um instante e depois soprou. E lá se foi o grande anel, maior até que o de Aldun, que por vez, também fez questão de soprar; porém o circulo saiu tão pequeno que retirou risadas do velho.
- Este foi bom - disse Aldun, sorridente. - O meu sequer aproximou-se da grandeza desse.
- É como você falou, senhor do fumo.
Aldun riu, e por hora tirou o cachimbo da boca. Olhou para a vila ao norte - uma gritaria ressoava tão alto que parecia haver uma batalha, mas era somente o desespero das pessoas.
- É incrível como essas pessoas são tão tolas - disse o guarda. - O Feiticeiro provavelmente já está muito longe.
- Vejo que não sou o único que pensa assim - concordou Aldun, levantando-se. - O assassino nunca permaneceria no lugar onde assassinou o pobre cavaleiro.
O velho guarda assentiu com um gesto, e novamente soprou seu cachimbo. Um minúsculo anel de fumaça formou-se, e subiu em direção ao céu. Antes que pudesse desaparecer na luz do dia, ele se desfez num rápido piscar de olhos. Depois de assistir à cena, o guarda virou-se para Aldun e perguntou:
- Qual é seu nome, rapaz? O que faz?
Aldun respirou fundo; nada mais era que um imprestável camponês.
- Meu nome é Aldun Ondart, cujo nome dos pais não importa. Sou um artesão de roupa.
- Interessante - disse o guarda. - Eu me chamo Baldwin Grimbald, cujo nome dos pais não importa. Eu sou um guarda, como pode perceber. E eu estou precisando de roupas.
Aldun sorriu. Ele demonstrava claramente a vontade de ir à casa do jovem artesão.
- Acho que posso lhe ajudar com as roupas.
- Eu ficaria grato - o guarda gargalhou.
Aldun espreguiçou e caminhou até a estrada barrenta que levava à vila. Tinha vontade de conhecer melhor o velho soldado, que aparentemente também desejava conhecê-lo.
Ao chegarem na humilde casa de madeira, Baldwin desprendeu a bainha de sua espada da cintura e colocou-a encostada na parede. No mesmo instante, Aldun correu até o fogo com a chaleira em mãos.
- Eu não bebo chá - o guarda alertou. - Se é que você irá fazer para mim.
- Ah, não, não é para você. Uma pessoa irá nos incomodar e eu devo fazer isto para ele.
- A quem se refere?
- Verá em breve - ele olhou de relance a pequena escadaria na sala. Pediu para que seu primo de quinze anos, Ned Ondart, estivesse dormindo. Mas deixou isto de lado e correu até a despensa, de onde tirou duas canecas e duas garrafas de cerveja. De modo desajeitado, carregou-as até a mesa, onde já havia uma xícara especialmente preparada para seu jovem primo, que em toda vila de Aldebrand era considerado uma peste.
Sentou-se ao lado de Baldwin e serviu-o a cerveja. Enquanto ele bebia tudo num único gole, disse:
- É guarda a quanto tempo, Baldwin?
O velho limpou sua curta barba com a mão e respondeu:
- Desde os vinte anos. Eu não me lembro muito bem!
Aldun, sem que antes pudesse falar, escutou um barulho vindo da cozinha. Virou-se e viu, para seu desespero, seu primo Ned segurando a deliciosa torta de maçã feita no início da manhã. Ele levou-a até a mesa e sentou-se entre Baldwin e Aldun, que rapidamente sentiram-se incomodados. Aldun entregou a xícara ao primo e disse:
- Pegue a chaleira e tome o chá no seu quarto, por favor. Seja educado somente uma vez.
- Eu lhes trouxe a torta - disse ele, tomando a xícara do primo. Rapidamente correu até a despensa, de onde voltou com duas fatias de bolo sobre um prato, portanto sem a xícara. Depositou-as sobre a mesa e novamente sentou-se entre os dois adultos.
- Satisfeito, Aldun?
- Vá embora, Ned, sua peste! Vá comer no seu quarto!
- Ned - repetiu Baldwin, rindo. - Esse é o nome do pestinha.
O garoto, que acabava de pegar uma fatia de bolo, colocou-a de volta na mesa e disse:
- Pestinha?! Tenha respeito com os menores, senhor guarda!
Aldun rugiu e levantou, agarrando o primo pelo braço. Puxou-o da cadeira e disse:
- Aguarde um instante, Baldwin. Pode comer a vontade - e então levou Ned para a despensa. Trancou a porta e sussurrou, nervoso:
- Deve respeitar os visitantes! Será que nem uma vez, pelo menos, terá educação? - ele pegou a xícara que o primo deixara sobre o balcão instantes atrás e entregou a ele. - Pegue isso, pegue a chaleira, e volte para o quarto.
- O problema é... - Ned respirou fundo. - Leuric e Ulric estão aqui. Vamos comer, agora.
Aldun riu, aturdido de tanto desespero; o que Baldwin pensaria ao ver uma casa comandada por crianças? E para seu grande terror, adentraram a pequena sala Leuric e Ulric, mais sorridentes que um pescador segurando uma moeda de ouro. Rapidamente os dois amigos de Ned começaram a dar voltas e mais voltas pela despensa, à procura de refeições que não tinham em casa.
- Parem imediatamente, parem! - gritou Aldun, em vão. Depois que pães, maçãs, amoras e tortas de amora foram roubadas, os dois sairam imediatamente da despensa, e o mínimo que Ned pôde fazer foi segui-los.
- Malditos! - sussurrou Aldun, impaciente. Voltou até a sala e, para sua surpresa, os três pequenos garotos sentavam-se ao lado de Baldwin, enquanto riam e organizavam as refeições postas sobre a mesa. E rapidamente, seu nervosismo se foi, e sua mente se esvaziou das preocupações.
- O... o que está acontecendo? - ele aproximou-se da mesa e sentou-se, enchendo a caneca de cerveja novamente.
- Você é paranóico - disse Ned, com a boca cheia. - Nós também temos vontade de conhecer esse guarda.
- Meu nome é Baldwin - ele disse. - E você não parece ser uma peste, Ned. Muito menos seus amigos.
Ulric e Leuric tentaram conter uma risada, que por fim saiu indesejada. Aldun olhou-os, nervoso, e somente com a força do olhar eles silenciaram-se. Depois, explicou a Baldwin:
- O problema é que ele faz muitas coisas ruins para a vizinhança. Não só ele, como esses amiguinhos dele também.
- São só crianças. Devem mais é que aproveitar - ele bateu a caneca com força sobre a mesa. - Mas eu tenho algumas coisas para lhe perguntar, Aldun.
Ele fez um sinal para que Baldwin prosseguisse, assustado após a reação repentina.
- Você viu algumas pessoas estranhas por essas florestas? Nada que tenha relação com o Feiticeiro. Estou falando dos orinucs.
- Orinucs - repetiu Aldun. - Essas pessoas não são vistas há muito tempo em Aldebrand. A última vez que apareceram eu era uma criança.
- O que é orinuc? - perguntou Ned, curioso.
- Orinuc significa louco, em galar - explicou o primo. - São pessoas loucas, como o próprio nome já diz. Talvez canibais que há muito tempo viviam nessas florestas.
- Não nas florestas - corrigiu Baldwin. - em cavernas escondidas nessas florestas.
E nesse momento, ao escutar as palavras do guarda, Aldun percebeu. Talvez eles jamais tivessem desaparecido.
- Está deduzindo que...
- O problema, Aldun, é que eu não estou aqui para cuidar do Feiticeiro, e muito menos estou aqui em ordem do rei - ele mordiscou uma fatia do bolo. - Estou aqui em ordem de Oswyn Lefwinus.
Aldun perdeu todo o apetite. Quem era Baldwin Grimbald de verdade? E muito menos sabia quem era Oswyn Lefwinus.
- Você mentiu! Pelos Deuses, quem é você?
- Eu nunca disse que era um guarda do rei. E eu sou quem você já sabe, Baldwin Grimbald.
Ned, Leuric e Ulric, quando perceberam a situação, rapidamente se retiraram da casa. Acharam que o melhor seria os dois discutirem entre si.
- Mas quem é Oswyn Lefwinus?
- Isso você não precisa saber - ele levantou-se, espreguiçando-se. - Mas eu preciso de sua ajuda para... - antes que pudesse terminar a frase, gritos desesperados assustaram-lhe. Olhou pela janela e percebeu toda uma multidão reunida num circulo, ao redor de alguma coisa.
- O que é aquilo? - ele perguntou, mas sem pretenções de receber uma resposta. Correu até a porta, pegando sua espada encostada ao lado e prendendo-a no cinto.
- Espere! - gritou Aldun, correndo atrás de Baldwin.
Quando sairam de casa, perceberam um caos total; Ned estava encolhido na porta, e quando percebeu que o primo havia aparecido, fez questão de agarrar-se a ele.
- O que aconteceu, Ned? - perguntou Aldun.
- Uma... uma flecha acertou o sr. Osgarus - ele estava trêmulo. - Não só ele, mas... mas a sra. Ailith também!
- Pelos Deuses! - ele olhou para a multidão; Baldwin já estava lá, introduzindo-se no meio como uma cobra. Aldun e o primo correram até ele, empurrando todos que se intrometiam em seus caminhos no chão barrento. E por fim, encontrou Baldwin ajoelhado ao lado do corpo do velho Osgarus. Ele retirou a flecha que lhe atravessava o peito e observou-a.
- Orinucs - disse ele. E mais uma vez, gritos ressoaram pela vila. - Vamos sair daqui, imediatamente! Aldun e Ned, devem vir conosco! - ele levantou-se num pulo e agarrou o braço de Aldun, e olhou ao redor para ver se Ned seguia-lhe por trás. Os olhos tristes do garoto sequer desviavam de Baldwin; queria naquele momento somente a segurança de sua casa.
- Vamos para casa, Aldun! - ele gritou.
- Não é seguro! - gritou Baldwin. - Os orinucs vão atacar a vila! E eu menti para você, Aldun - ele empurrou um velho que lhe tampou o caminho. - Os orinucs, mais que todos, possuem relação com o Feiticeiro. Foi ele que provocou tudo isso, eu presumo.
"Quem é Baldwin Grimbald?", perguntou-se Aldun enquanto o seguia para além da floresta, em direção a uma carruagem estacionada ao lado da Estrada Real que ligava Aldebrand com a província de Barinor.
Perdera agora sua casa; não sabia o que fazer em seguida, a não ser seguir Baldwin. “Embora ele tenha mentido, acabou por salvar minha vida", ele tentou pensar pelo lado bom.