1 Elementos e Estruturação de um Roteiro - Por Kazuyashi 7/9/2012, 05:04
Kazuyashi
Membro Honorário
Elementos e Estruturação de um Roteiro - Por Kazuyashi
Antes de começarmos, gostaria de dizer que este texto, apesar de independente, é, de certa forma, complementar ao primeiro de nome “De uma vez por todas: roteiros”, cujo objetivo é dar leves pinceladas nas estruturas básicas de um roteiro e diferenciá-lo do conceito de história. Se você não o leu e desejar por fazê-lo, poderá encontrá-lo através do link que segue: [url=https://templorpgmakerbr.forumeiros.com/t1393-de-uma-vez-por-todas-roteiros#6454[/url]
Bom, neste nosso segundo encontro, iremos ver, um pouco na teoria e bastante na prática, como os elementos de um roteiro se entrelaçam e se estruturam em algo profissional. Para inicio de conversa, vamos nos acostumar com a fonte que deverá ser utilizada: a Courier New (a mesma em uso na formatação deste texto). Esta fonte é PADRONIZADA PARA TODOS OS TEXTOS DO GÊNERO e, caso deseje que seu roteiro seja reconhecido como tal, precisará usá-la. Agora que já sabemos a fonte, vamos nos acostumar com alguns termos empregados aos elementos e suas definições:
Cabeça de Cena: primeiro elemento e primeiro na ordem de estruturação de um roteiro. “Cabeça de Cena” nada mais é do que a forma empregada para diferenciar uma cena da outra. Não há uma forma exata de se escrever uma cabeça, mas geralmente aparece do seguinte jeito:
CENA XX – LOCAL MAIOR/ LOCAL MENOR/ AMBIENTE/ PERÍODO DO DIA
Onde “CENA XX” é o número respectivo à cena, “LOCAL MAIOR”, o espaço geral onde ela está contida, “LOCAL MENOR”, o espaço contido dentro do espaço maior onde a cena se desenvolve, “AMBIENTE”, relaciona-se ao tipo de ambiente: se ele é INTERNO (INT) ou EXTERNO (EXT), e “PERÍODO DO DIA”, relaciona-se ao período de tempo: Se é DIA, TARDE ou NOITE.
Há casos onde nem todos os elementos citados precisarão estar presentes.
Talvez a explicação tenha ficadoum pouco confusa, portanto farei dois exemplos a fim de tentar esclarecer melhor. No primeiro exemplo, vamos supor que precisamos descrever a cena 10 de um filme qualquer e que se passa no quarto de Bobonilo, um dos personagens, no período matutino. Esta cabeça de cena ficaria assim:
CENA 01 – CASA DE BOBONILO/ QUARTO DE BOBONILO/ INT/ DIA
E vamos supor que na cena 23 do mesmo filme, precisamos mostrar a personagem Feiorilda caminhando na orla de uma praia qualquer, no período vespertino. Ela ficaria assim:
CENA 23 – ORLA DA PRAIA XYZ / EXT/ TARDE
Viram? Nem todos os componentesda cabeça necessitam estar presentes. Há situações em que não são necessários. Agora que já entendemos a cabeça (ou não), vamos ao próximo elemento: Descrição da Cena.
Descrição da Cena: como o próprio nome sugere, é o elemento responsável por designar todo o conteúdo da cena, não restringindo-se apenas aos personagens e objetos dispostos em seu decorrer, como também a parte técnica, por exemplo, o jogo de câmeras. Comumente são empregados verbos de ação na descrição e todos na voz ativa. Há também, na descrição, um recurso usado pelo roteirista para guiar os sonoplastas: quando se precisa de algum som específico relacionado a uma ação, as palavras que denotam este som vêm todas em maiúsculo. Para exemplificar, tomarei emprestado a nossa primeira cena. Juntando o que temos até agora, ficou assim:
CENA 01 – CASA DE BOBONILO/ QUARTO DE BOBONILO/ INT/ DIA
Bobonilo está dormindo. Sua cama é de madeira frágil (aparentando pobreza).
A câmera 2 focaliza a cabeceira e o despertador que TOCA sem parar.
A câmera 3 focaliza a mão de Bobonilo DESLIGANDO e DERRUBANDO o despertador no chão.
O relógio QUEBRA.
Bobonilo se levanta. A cama RANGE.
Reparem que não é necessário uma descrição perfeita. Isto é apenas um roteiro e, embora possamos dar um acabamento surpreendente a ele, isto não se faz necessário quando não temos em mente publicá-lo. Sua principal função é tornar a história prática, como já vimos no nossos primeiro encontro. Os nossos três próximos elementos andam juntos, e, portanto, serão apresentados juntos. São eles: o Personagem, a Rubrica e o Diálogo.
Personagem: esta definição é incrivelmente simples. Trata-se do personagem da vez que terá o diálogo. Na estrutura de um roteiro, encontra-se totalmente escrito em maiúsculo. Geralmente se dá uma tabulação para escrever o nome do personagem.
Rubrica: Após a especificação de qual personagem fará o diálogo, o
roteirista, SE QUISER, poderá adicionar uma rubrica, que nada mais é que uma orientação (podendo ser seguida ou não) ao intérprete de como deverá reagir. Raramente costuma-se usá-la, a guardando apenas para momentos excepcionais. Normalmente vem entre parênteses e em minúsculas. Geralmente se dá duas tabulações para iniciar a rubrica.
Diálogo: em poucas palavras, a fala do personagem. Geralmente se deixa o diálogo alinhado ao nome do personagem.
Vamos continuar a nossa cena e por em prática o que acabamos de ver. No exemplo, ficou assim:
CENA 01 – CASA DE BOBONILO/ QUARTO DE BOBONILO/ INT/ DIA
Bobonilo está dormindo. Sua cama é de madeira frágil (aparentando pobreza).
A câmera 2 focaliza a cabeceira e o despertador que TOCA sem parar.
A câmera 3 focaliza a mão de Bobonilo DESLIGANDO e DERRUBANDO o despertador no chão.
O relógio QUEBRA.
Bobonilo se levanta. A cama RANGE.
BOBONILO
Mais um dia... ter que trabalhar com essa dor nas costas ninguém merece.
Bobonilo tropeça em um taco de madeira podre e geme de dor.
BOBONILO
(gritando esbaforidamente)
AAaaaaaaaaaah!!! CARALHO, MEU PÉ!!!!!!!!!!!!
Há também uma estrutura chamada Transição, porém é pouco usada
atualmente. Ela é responsável por destinar o tipo de transição que será feita de uma cena para outra. Por exemplo, vamos supor que a cena no quarto de Bobonilo terminasse com ele no chão. Logo abaixo do diálogo apareceria:
CORTE SECO para
CENA 02 – CASA DE FEIORILDA/ COZINHA/ INT/ DIA
Feiorilda abre a geladeira e retira um pedaço enorme de bacon. Começa a comer animalescamente por ninguém a estar olhando.
FUSÃO para
...
E os elementos básicos foram apresentados. Porém, como deu pra perceber, ele foi visto no formato usado para cinema e TV. Para elaborar os nossos jogos, podemos fazer algumas alterações. Abaixo, compartilharei uma cena de um roteiro adaptado que escrevi para um
projeto próprio pausado. A cena ficou assim:
CENA 04 – CASTELO/ SALA DE ENTRADA/ INT/ NOITE
Espaço razoavelmente largo com chão coberto por uma tapeçaria vermelha, aparentemente tecida com material nobre. Há diversas mobílias em harmonia com o cenário erudito.
KYLE dá DOIS PASSOS à frente.
KYLE
Joanie...?
Efeito de PARTÍCULAS NEGRAS surgem ao norte, do lado oposto ao de KYLE.
Um vampiro de nome SWETH surge da PARTÍCULA DISSIPADA.
SWETH
...Quem és tu que clama por nome de outrem que não dos Milarkom?
KYLE
Kyle, um lenhador de uma das cidades escravizadas por teu bando fracassado!
SWETH
(sorrindo)
Que língua afiada. Homens mais preparados que tu já sofreram por ofensas menores.
MOVIMENTO de KYLE acelera.
KYLE dá ALGUNS PASSOS em direção ao vampiro.
SWETH se surpreende.
O chão próximo ao vampiro era ilusório, ocultando um BURACO relativamente largo que dava acesso à outra sala.
Para que a estrutura seja melhor visualizada, basta observar a imagem abaixo:
Bom, pessoal, espero que eu tenha podido ajudar de alguma forma. Qualquer dúvida, crítica ou sugestão, podem mandar que ficarei feliz em responder. Caso decidam treinar roteiros, aconselho baixar um programa chamado CeltX. Ele é gratuito e extremamente eficaz, pois o texto já sai nas medidas padrões e de forma bem fácil. Talvez eu faça um tutorial sobre o CeltX se necessário. De qualquer forma, um grande abraço!
Kazuyashi.